
Uma combinação de fatores que têm se intensificado ao longo dos anos está alterando a dinâmica das águas do Pantanal, que se tornou especialmente vulnerável este ano.
O alerta foi feito, na segunda-feira (22), pela WWF Brasil, no Dia Mundial da Água.
As causas vão desde as mudanças climáticas às queimadas, passando pelo crescente número de barragens que modificam o fluxo das águas.
De acordo com a WWF Brasil, níveis historicamente baixos do Rio Paraguai podem ocasionar uma nova temporada de queimadas como nos últimos anos, que pode trazer consequências irreversíveis.
Isso porque o Pantanal cumpre várias funções, entre as quais, conservação de solo e da biodiversidade, estabilização do clima e fornecimento de água.
Segundo o Serviço Geológico do Brasil, o Rio Paraguai, principal indicador das condições de inundação do Pantanal, apresenta uma tendência de seca para este ano de 2021.
Em Mato Grosso, as regiões de Cáceres e Porto Conceição apresentam níveis historicamente baixos no Rio Paraguai.
Em Mato Grosso do Sul, em Forte Ladário e Coimbra, também são previstos níveis historicamente baixos.
Os modelos de previsão indicam que a seca continuará nos próximos períodos, com uma interrupção da recuperação do nível do rio.
"Mesmo que o regime de precipitação se normalize, é pouco provável que o Rio Paraguai e o Pantanal tenham cheias significativas, mantendo-se em níveis historicamente baixos. Além disso, o fogo e as mudanças no uso do solo tendem a afetar a própria precipitação na região. Com a diminuição da cobertura vegetal, a tendência é que haja menor evapotranspiração, menor umidade no ar, e, logo, menor índice de chuvas”, alertou, por meio da assessoria de imprensa, Cássio Bernardino, analista de conservação do WWF-Brasil.
Conforme ele, também há um cenário de mudanças climáticas aliado à falta de controle ambiental e infraestrutura para combate a incêndios.
“Isso traz sérias ameaças à biodiversidade do Pantanal, assim como a segurança hídrica da região. Há o risco de haver uma nova catástrofe em razão dos incêndios e uma, como aconteceu em 2019 e 2020", completou.
O WWF-Brasil aponta que equilíbrio do Pantanal depende basicamente do baixar e subir de suas águas.
Esse ciclo se repetia todo ano com certa regularidade, possibilitando a renovação constante da fauna e flora e formatando a cultura pantaneira.
Porém, desde a década de 1970, a bacia do Alto Paraguai registra uma progressiva mudança em suas paisagens por causa do intenso uso e ocupação do solo.
“O bioma já perdeu em torno de 18% de sua cobertura natural, que se converte geralmente em pastos e terras aráveis. O ano passado foi especialmente danoso: em 2020, 22.119 focos de incêndios, cerca de 120% a mais que no ano anterior. Estima-se que mais de 2,1 milhões de hectares foram atingidos pelas queimadas em 2020”.
Paralelamente, a ação humana está impondo outro obstáculo ao fluxo natural das águas: existem mais de 100 pequenas centrais hidrelétricas planejadas na região do Pantanal e bacia do Alto Araguaia.
Segundo o relatório Alternativas Energéticas Renováveis da Bacia do Alto Paraguai, do WWF-Brasil, todos esses projetos de barramento poderiam ser substituídos por fontes renováveis que têm capacidade de gerar cerca de três vezes a potência nominal das PCHs planejadas para serem construídas na região hidrográfica do Paraguai.
Essa energia poderia ser gerada a partir de recursos disponíveis na região, tais como biomassa de cana-de-açúcar, dejetos animais, resíduos sólidos urbanos, particularmente das duas principais cidades da região, sendo elas, Cuiabá e Campo Grande.
No Brasil, o bioma ocupa Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, além de se estender pela Bolívia e Paraguai. São 170.500.92km² que abrigam 4,7 mil espécies de animais e plantas.
Ainda conforme a assessoria, na época da cheia, 80% do Pantanal é alagado, as enchentes se concentram entre dezembro e janeiro.
Nesse período, cerca de 180 milhões de litros são despejados por dia nos rios pantaneiros. O equivalente a 72 piscinas olímpicas.